Andar na rua - Na próxima Quinta, à mesma hora.
O Projeto “Andar na rua”, de Torres Vedras, mereceu por parte do Júri do Prémio Semana ALV 2016 o Diploma de Apreço Especial pela sua Origem Cidadã.
O desejo de ver mais gente a andar pelas ruas do centro histórico de Torres Vedras, de melhor conhecer os seus recantos e histórias e, sobretudo, a vontade de aproximar mais as pessoas que nele vivem e trabalham, dando novos sentidos às relações de vizinhança, foram alguns dos aspetos que estiveram na base da apresentação desta proposta.
O "andar na rua" nasce do envolvimento de um grupo de cidadãos no 2º Fórum de Participação do "Torres ao Centro" (iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Torres Vedras em outubro de 2011), que escolheu como tarefa responder à pergunta "Que podemos nós fazer pela nossa cidade?".
Desde então, o "andar na rua" passou a reunir-se todas as quintas-feiras, às 21 horas, em frente ao edifício que o viu nascer - os Paços do Concelho -, assumindo-se como um “ponto de encontro de quem quer passear e conversar pela cidade de T. Vedras, um pouco ao acaso, à (re)descoberta do espaço e das suas gentes”.
O número de participantes semanais oscila entre os 16/20, número que aumenta, por vezes significativamente (30/40), sempre que há algo especial: percursos temáticos guiados por convidados, visitas a exposições com conversa com autores, participação em eventos da comunidade (Semana Europeia da Mobilidade, Dia das Cidades com Centro Histórico, Semana da Visão, Arte ao Centro, ...), etc.
No que se refere às relações entre os seus participantes, o "andar na rua" tem sido um espaço facilitador da construção de novas relações intergeracionais (há pessoas de todas as idades, embora a faixa dos 50/60 seja maioritária) e sociais, pois tem aproximado pessoas com perfis (profissionais, sociais, ...) diferentes.
A partilha de histórias e saberes sobre os espaços percorridos, acrescida do contributo de convidados que ajudam o grupo a melhor conhecer a cidade, trouxe, desde cedo, um lado formativo à iniciativa. Ou seja, não era só andar na rua, era andar e aprender.
Esta dimensão levou os seus membros “base" (alguns deles ligados à formação de adultos) a apresentarem candidatura à conferência Arale / Awareness Raising for Adult Learning and Education, promovida pela EAEA em outubro de 2012, tendo esta iniciativa sido considerada pela organização uma das sete melhores práticas de educação não formal no grupo de iniciativas dirigidas a públicos generalistas. Nesse encontro em Bruxelas o "andar na rua" fez-se representar por três elementos.
Foi também esta dimensão formativa que esteve na base da presença do “andar na rua” nas atividades locais da Semana ALV de 2012, promovida pela Associação O Direito de Aprender.
As dinâmicas e visibilidade que o "andar na rua" foi construindo conduziram também à sua participação no II Congresso das Cidades que Caminham, que decorreu em Pontevedra em 2014, integrando um dos seus membros, a convite da Câmara Municipal, uma delegação de Torres Vedras. O ano passado, o “andar na rua” esteve também presente no III congresso das Cidades que Caminham, que ocorreu em Torres Vedras, tendo um dos seus dinamizadores sido convidado a fazer uma comunicação.
À dimensão "exercício físico" (foram muitos os quilómetros percorridos ao longo destes cinco anos de existência), o "andar na rua" foi acrescentando muitas outras dimensões, de que destacamos a convivial, a solidária e a de aprendizagem.
Sendo esta última uma das mais relevantes para este contexto, realçamos as seguintes atividades:
- Implementação de percursos temáticos (Rota do Azulejo, do Vinho à Arte, Portas da Cidade, Espaços de diversão na viragem do séc. XIX para o séc. XX, etc, etc.) graças à colaboração de diversos professores de história e/ou investigadores de história local;
- Visitas a exposições em estruturas da comunidade (ex.: Galeria Municipal, Cooperativa de Comunicação e Cultura, ... .)
- Visitas a associações locais (ex: Transforma, Atlético do Castelo, Fórum das Associações, ...);
- Celebração de datas especiais (ex: Rota dos Quatro Sentidos, no âmbito da Semana da Visão; Rota do Centro Histórico, para assinalar o Dia das Cidades com Centros Históricos; 25 de Abril, …);
- Participação em workshops (ex: Arte ao Centro, Encontro de Urban Sketchers de Portugal, …);
- Idas ao cinema (ex: Café com Filmes);
- Idas a espetáculos e eventos promovidos pela autarquia;
- Participação em atividades promovidas por escolas (ex.: Cantar os Reis, À descoberta de Villenave d’Ornon, …);
Uma das participantes do “Andar na Rua” conta-nos o que significa para ela pertencer a este grupo. “Reunimo-nos às Quintas-feiras, a meio da semana, porém sinto que é uma espécie de fim-de-semana. Ou seja, a maioria das pessoas anseia para que chegue a sexta-feira, o fim de uma semana de trabalho, eu anseio para que chegue a quinta-feira, porque é nesse dia, com o "Andar na Rua", que eu relaxo totalmente e, ao conhecer todos os cantinhos da cidade de Torres Vedras, acabo por conhecer também todos os "cantinhos" de mim própria, bem como os "recantos" e "encantos" dos meus amigos e colegas de grupo. É, descobrindo pequenas noções históricas do passado torreense, que descubro o tesouro que é pertencer a esta cidade e a esta comunidade em que vivo. Adorei saber mais dos azulejos das paredes de Torres Vedras e adorei andar por cima das mesmas pedras da calçada e das lajes que, ao longo de séculos, foram pisadas e percorridas por tantos ilustres Torreenses. Hoje sinto que, até experimentando andar às cegas pela cidade (como já aconteceu ao vivenciarmos o "Andar na Rua" na perspectiva de um invisual), estou a deixar-me ir pelos caminhos da história que nos unem uns aos outros, torreenses e não só! Obrigado "Andar na Rua" pelas ligações fraternas entre "cantos, encantos e recantos" de cada um dos que participam neste projeto. "Andarei" sempre que me for possível! Bem hajam e obrigada por fazerem as minhas semanas mais felizes!”
Outro testemunho conta-nos como foi o desafio de colaborar no projeto “Andar na rua”, organizando e dinamizando algumas atividades ligadas com a história local. “Uma das razões prendeu-se com a possibilidade que esta participação me dava de entrar ativamente num outro espaço educativo, que não a escola, onde desenvolvo a minha atividade profissional, e procurar compreender o seu papel na formação pessoal e social das pessoas. A ideia de que qualquer espaço social é um espaço de educação, que ela se processa ao longo de toda a vida, e que se concretiza em espaços formais, como o da escola, está generalizada. Mas, este projeto permitiu-me refletir, a partir das minhas participações, acerca das experiências de aprendizagem de caráter social, fora dos espaços formais, voluntárias e sem hierarquias. E descobrir um território de educação não formal, onde os valores humanísticos são o mais importante da aprendizagem, foi muito importante para mim. A preparação das atividades e o seu desenvolvimento com todas as pessoas que nelas participaram, foram momentos muito felizes.”
Aquando da celebração dos cinco anos do “Andar na Rua” foi publicado, no dia 21 de Novembro, no site TorresVedras Web, o seguinte artigo escrito por Rita Alves dos Santos
Andar na Rua: há cinco anos a calcorrear o centro histórico de Torres Vedras
Quinta-Feira. 21 horas. Cerca de trinta pessoas reuniram-se junto ao Edifício dos Paços do Concelho para andar na rua. “Memórias Urbanas das Linhas” foi o tema que deu o mote à caminhada da última semana, que contou com a colaboração do historiador Carlos Guardado da Silva. Afinal, o projecto “Andar na Rua” celebra cinco anos de existência, ao longo dos quais levou os torreenses a percorrer o centro histórico da sua cidade. “O grupo nasceu no 2º Fórum de Participação do ‘Torres ao Centro’, onde havia várias temáticas sobre o desenvolvimento económico e social” explica Ana Miguel, co-dinamizadora do grupo que se assume como um “ponto de encontro de quem quer passear e conversar pela cidade, um pouco ao acaso, à (re)descoberta do espaço e das suas gentes.”
Estávamos em 2011 e falava-se de algum “receio” em sair à rua após o cair da noite. “O objectivo era pensar o que podíamos fazer pela nossa cidade para combater o abandono e a falta de vida. Uma das ideias era mobilizar as pessoas para virem para a rua conviver e para nos começarmos a conhecer melhor.” É assim todas as semanas. E foi assim que na última Quinta-Feira, entre conversa e estilo descontraído, se arrancava em direcção ao Jardim da Graça, onde se encontra o Obelisco Comemorativo da Guerra Peninsular. “O nosso objectivo é que venha gente que se interesse.” E os interessados aumentam a cada vez que o encontro é especial. As rotas variam todas as semanas e se muitas são lideradas pelos próprios membros do grupo, outras ficam a cargo de professores de História das escolas torreenses.
Andar na Rua: há cinco anos a calcorrear o centro histórico de Torres Vedras
O Obelisco comemorativo da Guerra Peninsular evoca as Linhas de Torres, assim como as batalhas da Roliça, do Vimeiro, do Buçaco.
“Decidimos apresentar esta ideia em plenário e iniciámos na semana seguinte. Contrariamente a todas as outras, tinha a grande vantagem de não precisar de meios, de recursos, de sedes, nem de dinheiro.” A iniciativa havia de arrancar com seis participantes. Aos dias de hoje, a participação estabilizou em cerca de 20 pessoas. Mas esta noite de Outono contava ainda com a participação de um grupo de alunos da Escola Secundária Henriques Nogueira, que se juntaram a este percurso dedicado às Linhas de Torres. É que algumas das pessoas que estão na base deste grupo são professores daquela escola. Parava-se, agora, na Rua Brigadeiro Neves Costa, o homem que delineou a estrutura das Linhas, feito que erradamente se atribui ao Duque de Wellington, como explicou Carlos Guardado da Silva.
“No fundo andamos a ver o que há por aí para poder aproveitar. Quando não há nada de especial, juntamo-nos e andamos.” Ana Miguel sublinha a dimensão integeracional deste grupo, que permite a troca de experiências e a partilha de histórias. “É muito interessante ver o quanto é importante enquanto espaço de partilha.” A ligação com a comunidade parece ser uma preocupação sempre patente. A dinamização de acções que visam sensibilizar o grupo para as dificuldades dos cidadãos invisuais é disso exemplo, assim como a visita a exposições e a participação noutras iniciativas culturais.
Andar na Rua: há cinco anos a calcorrear o centro histórico de Torres Vedras
Por ocasião do seu quinto aniversário, o Andar na Rua celebrou as “Memórias Urbanas das Linhas”.
Entrava-se para o Museu Leonel Trindade, continuando uma rota que percorreu a história em torno das Linhas. “É um grupo perfeitamente autónomo, sai com quem estiver aqui. Este ritual do dia e da hora é facilitador para a mobilização das pessoas.” O dia seguinte viria a ficar marcado na história do “Andar no Rua”, que recebeu uma Menção Honrosa de Cidadania pela Associação o Direito de Aprender. Já em 2012, o projecto foi considerado uma das sete boas práticas de educação não-formal pela Associação Europeia para a Educação de Adultos. “Não é o importante para nós” explica Ana Miguel, já de regresso ao ponto de partida. Pouco passa das dez horas, mas ainda há tempo para um pequeno balanço com o historiador convidado. O grupo dispersa, de sorriso no rosto, entre as ruas do centro histórico de uma cidade que, assim, ganha mais vida.
Na próxima Quinta, à mesma hora.
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