A Semana Aprender ao Longo da Vida no Jornal das Letras
No suplemento da Educação do JL – Jornal de Letras e Ideias (JL Nº 1205 - 7 a 20 de dezembro) a Semana ALV 2016 e o Prémio da Semana atribuído à Rede Valorizar dos Açores, são objeto de destaque.
Numa página dedicada a esta iniciativa da associação O Direito de Aprender, escrevem Acir Meirelles, coordenador da Rede sobre a experiência açoriana e Rui Seguro presidente da associação Direito de Aprender, sobre o tema e a iniciativa.
Desta forma o Jornal JL dá relevo à importância da aprendizagem ao longo da vida.
Concorrer é descobrir
Quem navega pela Internet descobre sempre novas paragens, mesmo quando tem um mapa muito preciso daquilo que procura. Foi assim, quase que por acaso, que dei à costa de uma página intitulada O Direito de Aprender. Ao acessá-la, deparei-me com diversos artigos cuja temática dizia respeito ao meu trabalho: educação de adultos. Melhor explorando, descobri que havia uma Semana Aprender ao Longo da Vida, que decorreria uma em 2016 e que até existia um prémio para as melhores práticas neste campo. Havia ali muito território a ser explorado.
Reunida a equipa da Rede Valorizar, questionamo-nos: valeria a pena concorrer ao prémio? A questão era pertinente. Na sua génese, a Rede Valorizar foi criada pelo Governo Regional dos Açores para desenvolver processos de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC), a exemplo dos Centros Novas Oportunidades. Sim, fazíamos bem este trabalho. Sim, tínhamos desenvolvido ao longo dos anos algumas estratégias pedagógicas que considerávamos interessante. Mas não era suficiente para justificar uma candidatura.
Foi o momento da nossa primeira descoberta: o que fazíamos de realmente diferente eram os Cursos de Aquisição Básica de Competências, os nossos Cursos ABC. Iniciados em 2012, como forma de combater a baixa literacia dos utentes das Agências Para a Qualificação e Emprego dos Açores, aliam a metodologia do RVCC com uma formação que mobiliza competências na área do Português, da Matemática, da Cidadania e da Informática. Afinal tínhamos uma boa prática que justificava uma candidatura.
Preparar a candidatura implicava recolher informações, antes dispersas, que, uma vez em conjunto, permitiu-nos um olhar renovado para os Cursos ABC. Segunda descoberta. Já havíamos certificado quase 6 mil pessoas. Estávamos presentes em 13 dos 19 concelhos dos Açores. Tínhamos manuais construídos pelos formadores para todos os domínios e níveis. Tínhamos instrumentos de diagnóstico final e inicial. Ou seja, havíamos criado um verdadeiro sistema de formação.
Elencamos igualmente práticas que fomos introduzindo ao longo dos anos e pudemos, assim, validar a sua pertinência. Terceira descoberta. Os nossos formandos têm de ler um livro ao longo da formação, o que resultou que, em alguns grupos, eles resolvessem criar o seu próprio livro. Da mesma forma, todas as turmas devem desenvolver um projeto social. Se no início eram muito estereotipados – recolha de roupas e de alimentos – com o tempo foram se aprimorando. Algumas turmas foram ao hospital doar sangue, outras recuperaram um parque infantil degradado, criou-se uma horta comunitária e, integrado na Semana Aprender ao Longo da Vida, distribuíram-se gratuitamente mais de cem livros pela cidade de Ponta Delgada.
Por fim, no dia do Encontro, foi importante poder contactar as demais organizações concorrentes e descobrir que, de certa forma, estávamos todos a seguir caminhos semelhantes para chegar ao mesmo fim: garantir o tal Direito de Aprender. Foi a nossa quarta descoberta e a mais reconfortante.
Acir Fernandes Meirelles
Porquê uma Semana Aprender ao Longo da vida
A primeira Semana Aprender ao Longo da Vida surgiu em 1992, no Reino Unido, com a designação “Adult Learners’ Week”. Esta ideia de um festival de aprendizagem foi desenvolvida pelo NIACE (National Institute of Adult Continuing Education) que é uma organização independente, para a promoção da educação de adultos, num contexto de cortes e mudanças nos gastos públicos relacionados com a educação de adultos. O objetivo dessa semana era destacar os benefícios sociais de aprendizagem, procurando chegar, em particular, às comunidades e indivíduos excluídos de oportunidades de aprendizagem, com o objetivo de os motivar a participar em atividades de aprendizagem.
Esta iniciativa surgiu posteriormente na Austrália e na Jamaica (1995), na África do Sul (1996), bem como na Bélgica (Flandres), na Eslovénia e na Suíça (1996) e hoje realiza-se em mais de 55 países de todos os continentes.
Existe diversidade nestas Semanas em várias vertentes, como por exemplo, nas designações que assumem – Adult Learners Weeks, Lifelong Learning Days, Learning Festivals, ou Literacy Weeks – nos níveis que podem envolver – nacional, regional ou local – assim como nos períodos do ano em que se realizam – Março, Maio, Setembro ou Novembro.
Em 2012, a Associação O Direito de Aprender, organizou pela primeira vez em Portugal uma Semana Aprender ao Longo da Vida (ALV). Após um interregno de três anos, voltou a organizar este ano mais uma Semana ALV que decorreu na semana de 14 a 18 de novembro e contando, desta vez, com um maior número de parceiros: Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP), Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Fundação INATEL, Plano Nacional de Leitura (PNL), Associação Portuguesa de Educação e Formação de Adultos (APEFA), Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente (APCEP) contando ainda com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
São passos tímidos para a celebração de uma semana que não se pretende, de modo algum, ser um fim em si mesmo, mas que procura constituir um potencial instrumental e estratégico para a criação e valorização de ambientes de diversos tipos de aprendizagem (formal, não formal e informal) e, assim, ajudar a construir sociedades de aprendizagem.
Como estrutura base para estas semanas ALV em Portugal definiram-se três vertentes principais: Atividades Locais, Prémio e Encontro.
Rui Seguro